Estava eu novamente na estrada, ansioso para chegar em Hampi,região central da Índia, local de muita história, quando tive aquela estranha sensação de estar sendo observado, virei-me, e o vi. Sorri e ele devolveu-me em dobro. Sentou-se ao meu lado e a amizade começou. A viagem de 10 horas entre a linda praia de Gokarna até a antiga Hampi transcorreu como minutos fossem.
Teena, seu nome, 8 anos e uma curiosidade... de criança. Perguntou-me, num iniciante Inglês (compatível com o meu): "Que país você vem?"; "Quantos anos"; "Quantos filhos?"; "Quanto custa?"; "Quanto volta?"; "Quanto tempo...?"; "Como se chamam seus filhos?"; "Como...?"; "Como...?"; "Como...?"; "O que..."; "O que...?". Advérbios e pronomes interrogativos sucederem-se numa velocidade incompatível com minhas respostas.
Na janela, o interior da Índia, um verde Nordeste, transcorria com colheita de milho, e algum outro grão, que meus olhos de concreto não puderam identificar. Fiquei dividido entre ver as magnificas cenas de quilômetros de estrada parcialmente cobertas de grãos, e as famílias de agricultores pisando-os como se dançassem, ou dar atenção àqueles dois grãos negros e curiosos.
Deixei-o folhear o IPad, dedos e olhos vasculharam programas e fotos junto aos: "Pra que serve...?"; "Quem é este?"...
Parou numa foto: "Essa eu sei... É a Itália, não?", perguntou-me.
"Sim!"
Arrancou-me o tablet da mão e saiu em disparada para mostrar ao pai e à mãe. Uma multidão se amontoou a sua volta. Com habilidade explicava em hindi, lugares, cidades, histórias. O cobrador se juntou ao grupo.
Voltava-me por vezes com um "Onde é isto?" na boca. Juntei-me aos indianos. E com eles partilhei com alguns dos lugares vividos, pessoas conhecidas, histórias e estórias. Meu pequeno interlocutor ganhava autoridade, discorria com propriedade, numa língua, para mim, inacessível. A cena era insólita: senhores com barbas e bigodes eternos, mulheres com saris impecáveis, ouvidos ávidos pelas palavras de um 'pingo de gente'.
Me ajudou nas primeiras orientações quando desci em Hampi, e nos despedimos com um certo aperto " bom" no coração.
"achchha bachcha!" (Bom garoto!), disse ao pai gastando 63% de meu vocabulário Hindi.
Nos seus olhos, aquele orgulho lindo e besta, que somente pais têm; na cabeça à música "8 Anos - Gabriel", de Adriana Calcanhotto. E com ela eu desejo um Feliz Dias das Crianças aos meus filhos e aos outros filhos, e aos corujas de plantão. Namastê aos pequenos perguntadores.
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