No dia 13 de maio foi comemorada a “Abolição” da escravatura no Brasil, como não poderia deixar de ser, com muito protesto, mesmo com as dificuldades impostas pela pandemia de Covid-19. Partindo desse fato, aproveito para indicar um documentário nacional que trata da injustiça racial, preconceito e suas consequências: a desigualdade social concentrada no povo negro e a falta da igualdade de oportunidades para que essa realidade mude.
Emicida: AmarElo - É Tudo Pra Ontem, tem tudo isso e muito mais. É uma aula, já que apresenta a carga histórica de exploração e abusos que os africanos e seus descendentes carregam até hoje, sem deixar de mostrar seus exemplos de resistência, afirmação e superação. É uma biografia, pois o rapper faz questão de se colocar dentro dessa história e portanto demonstrar que essa luta ainda não acabou. Tudo isso por meio da arte, já que o documentário tem como pano de fundo o making-of do show realizado em novembro de 2019 no Theatro Municipal de São Paulo (tudo aqui é simbólico, inclusive o local de realização do show).
Se você acha que acabou, se enganou, porque quero destacar as duas coisas que mais me impressionaram no filme:
1) A busca por uma nova estética musical: Sem deixar de lado sua base, o RAP, Emicida vai mais fundo e mistura tudo, principalmente a MPB, surgindo uma sonoridade diferente que, talvez, represente melhor a diversidade cultural e racial brasileira. Essa busca tem tudo a ver com o segundo destaque:
2) O documentário, como dissemos acima, é uma aula sobre a histórica de exploração e abusos que sofrem os africanos e seus descendentes, mas Emicida parece querer dar um passo a frente. Sem negar, na verdade reafirmando, a necessidade dessa reparação histórica, ele parece dizer: Reconheçam seus erros, nos deem oportunidades para superar as desigualdades e lhes estenderemos as mãos para seguirmos juntos, como um só povo. Isso fica demonstrado na diversidade étnica, de estilos e de gênero, dos músicos e atores que participam da obra: Zeca Pagodinho, Marcos Valle, Majur, Pabllo Vittar Fernanda Montenegro e, marcadamente, no contraponto entre duas rainhas da dramaturgia brasileira, Ruth de Souza, considerada a primeira-dama negra do teatro, cinema e da televisão do Brasil.
Emicida: AmarElo - É Tudo Pra Ontem: Disponível na Netflix.
Link do clipe:
https://www.youtube.com/watch?v=PTDgP3BDPIU