Comunicação Não Violenta (CNV)

Por Psicologia em Arte - Luciane Brito em 20/08/2024
Comunicação Não Violenta (CNV)

 

Por volta de 1960, o psicólogo Marshall Rosemberg, inspirado pela forma de resistência não violenta de Gandhi e Martin Luther King, sistematizou a Comunicação Não Violenta (CNV). Ele se aprofundou na pesquisa sobre o papel da linguagem e identificou padrões que afastam as pessoas umas das outras, bem como da compaixão: a linguagem alienante. Desta forma, a CNV visa uma comunicação empática, humanizada e não discriminatória. Já que a Comunicação Violenta é propensa a conflitos, manipulação e não raras vezes causa medo e culpa. Inclusive os gestos, por sua vez, podem ser uma forma de linguagem que expressam coerção. Por isso, o que se busca com a CNV é o não cerceamento da liberdade, o reconhecimento das necessidades e do valor de cada ser humano.

A CNV pode ser usada em toda forma de relacionamento (escolar, profissional, familiar) e até mesmo nos debates, é possível exercer uma fala mais afetuosa, ainda que com atenção mais focada no objetivo, promovendo um crescimento individual e social mais promissor e menos intimidador. Marshall conviveu em ambientes onde o preconceito cultural, a violência e, essencialmente, a segregação racial estavam bastante presentes. Ele sofreu bullying na infância, o que o levou a direcionar os estudos para a importância dos reflexos de tais atos na vida adulta. Ele defendeu a ideia de que situações desconfortáveis não precisam ser agressivas, pois acreditava na possibilidade de interações sadias.

O que hoje é muito discutido em clima organizacional, liderança sem exclusão, já era ponto de observação por Marshall; a falta de comunicação ou a comunicação imperativa pode causar níveis de estresse altos, o não se expressar de forma clara e a falta de escuta ativa são apontados como pontos falhos na comunicação. Nos dias atuais, a falta de conexão é percebida em todas as esferas: menos contato social e mais contato virtual; menos tolerância e mais busca pela razão; menos atividades externas e mais reclusão. O dia a dia está cada vez mais acelerado, há menos tempo para ouvir o colega, o familiar ou a si mesmo; preocupados em não perder tempo, até os gestos de gentileza parecem escassos.

A forma de comunicação desprovida de juízo de valor propicia benefícios no ambiente profissional, tais como a manutenção de talentos e a redução na rotatividade de pessoal, uma vez que não caracteriza um ambiente de indiferença, falta de respeito e desvalorização.

Os 4 componentes da CNV são: Observação, Sentimento, Necessidade e Pedido.

- Observação: separar o que está sendo notado do julgamento.
- Sentimento: expressar o que se sente diante do que está acontecendo.
- Necessidade: ouvir as próprias necessidades e também as dos outros.
- Pedido: ação clara do que gostaríamos que fosse feito para que as necessidades possam ser atendidas (entenda-se por pedido claro como forma transparente de expressar-se e não como exigência).

Toda essa comunicação empática proposta pela CNV começa por si. Aplicá-la tem a ver com desenvolver o autoconhecimento e resgatar a humanidade diante da vulnerabilidade, já que reconhecer-se como um ser falho é uma árdua tarefa. Pois, não raras vezes, trajetórias de vida ensinam que é “necessário matar um leão por dia” e, apesar de “errar é humano”, o medo de errar assola a vida emocional da grande maioria, que passa a viver de forma apreensiva e violenta consigo mesma.

A autocompaixão é o início da transformação de ideias que foram incutidas ao longo da vida sobre a culpa de não ser perfeito. É necessário sair do piloto automático para relacionar-se consigo e com o outro de maneira mais real, o que quer dizer ter consciência de que cada instante é um instante e vivê-los tal qual acontecem, sem reagir sem levar em consideração os componentes da Comunicação Não Violenta.

 

Comentários

  • Parabéns pela forma brilhante, na abordagem desse tema.
    Fátima Maria De Faria Ferreiras Santos
    23/08/2024
  • Que texto maravilhoso! Todas as pessoas deveriam ter oportunidade de ler. Nos leva a refletir sobre a vida toda.
    Eliete
    06/09/2024
Aguarde..