Paraíso: O Tempo em Liquidação

“Pois se eles querem meu sangue, verão o meu sangue só no fim

E se eles querem meu corpo, só se eu estiver morto, só assim”

Querem Meu Sangue (The Harder They Come) - Cidade Negra

 

Todos nós, em algum momento, recebemos uma daquelas propostas que, segundo o seu patrocinador, iria revolucionar a nossa vida. Pode ser um produto eletrônico, as vezes completamente desnecessário, ou uma super-híper proposta de financiamento de um “bondoso” banco. “Paraíso”, filme alemão disponível na Netflix, trata de uma dessas ideias que o capitalismo inventa para sobreviver.

Nessa ficção, num futuro não muito distante seria possível vender parte do tempo de sua vida para outras pessoas e assim viver com conforto o que restou de sua vida. O tema não é novo, já foi explorado em “O Preço do Amanhã (2011) ”, mas o filme alemão aprofunda a reflexão sobre os limites de se colocar valor financeiro em tudo, sem nenhum parâmetro ético.

Tudo parecia ir bem para Max, protagonista do filme, funcionário em ascensão da empresa que opera as transferências de tempo. Ele trabalha justamente convencendo as pessoas que vender suas vidas é um bom negócio e confia na mensagem da empresa, que por sua vez embrulha seus interesses numa mensagem de progresso para toda a humanidade. Mas será que num mundo onde a desigualdade social é um imperativo e os mais ricos insistem em acumular mais riquezas as custas dos menos favorecidos é possível administrar esse sistema com justiça? Max irá descobrir isso quando as regras do sistema se aproximarem de quem ama.

Tudo isso parece muito distante da realidade, vender parte da vida, mas infelizmente não é bem assim, e a reflexão que a obra nos traz vem em boa hora, já que nós, habitantes do hemisfério sul, temos visto surgir propostas políticas que vão no sentido de que tudo pode ser medido financeiramente: O candidato melhor colocado nas prévias presidenciais argentinas, Javier Milei, de extrema direita, tem entre suas propostas a permissão da venda órgãos humanos e tramita no Senado brasileiro uma Proposta de Emenda à Constituição que autoriza a comercialização, que hoje é um ato voluntário, de plasma humano pela indústria farmacêutica. É a vida imitando a arte da pior forma possível!

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