O sol estava se pondo.
- Uma pergunta boba: Furou?- disse ele com ar de sorriso.
Antes que ela o replicasse ele acrescentou: – quer ajuda?
Ela, da posição em que se encontrava, viu dois pés e, por entre as pernas dele, um carro estacionado a poucos metros do seu. Elevando mais a cabeça viu seu corpo todo e, levantando-se, disse que o telefone não estava funcionando naquela região.
Ele estendeu a mão para cumprimentá-la e ela, para quebrar o gelo de vez, sorrindo, ofereceu-lhe a chave de rodas enquanto falava seu nome.
Alguns instantes se passaram. Ela em pé, de braços cruzados e ele, quase ajoelhado, conversavam coisas impessoais.
De repente pararam.
Esse homem todo de branco poderia ser médico, dentista ou, na pior (ou melhor) das hipóteses, pai-de-santo, pensou sorrindo. Preferiu concluir que era um anjo.
Ele, incomodado com a falta de palavras, perguntou-lhe:
- Você sabia que quando estamos conversando e ficamos em silêncio de repente é porque perto de nós passa um anjo?
Ela surpreendeu-se com a coincidência, mas concordou discretamente com um aceno de cabeça e um universal “rã, rã!”
Terminado o serviço ele devolveu-lhe a ferramenta e ela com sorriso de satisfação e um muito obrigado, agradeceu a gentileza.
- “Brigado o caramba!” Disse sorrindo...
Você paga o café no próximo posto.
Ela aceitou a proposta, pensando em conhecê-lo melhor.
Enquanto entrava no carro ele indagou:
- A que velocidade você dirige?
- Sei lá, cem, cento e vinte.
- Se andar mais que isso... ponho a polícia atrás de você.
Desta vez ele encarou-a sério e disse:
- É que eu não quero te perder de vista!
O sol havia se posto.
Nem imaginavam que naquele dia passariam a noite em claro.
Com o brilho dos faróis, e o brilho dos sorrisos, e o brilho dos olhos, e o brilho das estrelas, os carros seguiam a longa e tortuosa estrada...
Até a próxima parada.
(Alcides Vieira)
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