História de Tia Ciata, uma das figuras mais emblemáticas da cultura afro-brasileira, cujo quintal foi o berço do samba e palco de resistência, celebração e preservação das tradições negras no Rio de Janeiro.
Hilária Batista de Almeida, mais conhecida como Tia Ciata, nasceu em 14 de janeiro de 1854, em Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano, no dia de Santo Hilário. De seu relacionamento com Noberto da Rocha Guimarães, em Salvador, nasceu sua primeira filha, Isabel. Aos 22 anos, em 1876, Tia Ciata mudou-se para o Rio de Janeiro, inicialmente morando na antiga rua General Câmara, entre a Igreja da Candelária e a Central do Brasil. Posteriormente, estabeleceu-se na Rua da Alfândega.
No Rio de Janeiro, casou-se com João Batista da Silva, também baiano, que possuía uma condição econômica confortável e havia cursado a Escola de Medicina da Bahia, embora não a tenha concluído. Juntos, tiveram 15 filhos. Iniciada no candomblé ainda na Bahia, Tia Ciata tornou-se Iyá Kékeré (mãe pequena) na casa do pai de santo João Alabá de Omolu, localizada na Rua Barão de São Félix, no bairro da Saúde. Sua fama como líder religiosa a levou a ser procurada por figuras importantes, como o presidente Venceslau Brás (1914-1918), a quem ajudou a curar um eczema. Em agradecimento, o presidente nomeou seu marido para um cargo no gabinete do chefe de polícia.
A presença de Tia Ciata na cultura brasileira ultrapassou a esfera religiosa. No livro *Macunaíma*, de Mário de Andrade, ela é retratada como uma figura poderosa e simbólica, descrita como uma mãe de santo influente e cantadeira de violão. Sua casa, na Praça Onze, conhecida como "Pequena África" (apelido dado por Heitor dos Prazeres), tornou-se um importante espaço de resistência cultural, abrigando cultos religiosos, festas, e rodas de samba que duravam dias. Tia Ciata também cantava, cozinhava e alugava roupas de baiana para festas e eventos, consolidando sua casa como um ponto de encontro para a cultura negra carioca.
Com a morte de seu marido, por volta de 1910, Tia Ciata mudou-se para a Rua Visconde de Itaúna, onde continuou recebendo importantes figuras da música carioca, como Pixinguinha, Donga e João da Baiana. Sua casa também foi palco do surgimento do primeiro samba gravado, "Pelo Telefone" (1916), cuja autoria, atribuída a Donga e Mauro de Almeida, gerou controvérsias por ser considerada uma criação coletiva nos quintais de Tia Ciata.
Além de seu papel na música, Tia Ciata participava das festividades religiosas da Penha, promovendo encontros culturais e religiosos que misturavam elementos do candomblé e do catolicismo. Suas barracas de comida atraíam milhares de visitantes, tornando-se um ponto de destaque nas celebrações.
Tia Ciata faleceu em 1924, no Rio de Janeiro. Sua casa e sua trajetória representam marcos fundamentais na história da cultura negra e do samba no Brasil, perpetuando seu legado como uma das grandes matriarcas da música e da resistência cultural afro-brasileira.
O documentário aborda o protagonismo feminino negro sob a ótica da personagem popular Tia Ciata, uma mulher de suma importância para a história e cultura brasileira, referência na construção da identidade nacional.
DIREÇÃO e ROTEIRO: Mariana Campos e Raquel Beatriz
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